Tuesday, January 02, 2007

Haiku 5

A noite em que a Terra parou
Klaatu Barada Nikto. Qualquer amante de ficção científica sabe as palavras mágicas que salvaram o planeta do correctivo nuclear (a guerra preventiva avant la lettre!). Àqueles lábios femininos de libelinha devemos as nossas sístoles e diástoles presentes, e entre elas todas as fantasias apocalípticas que excitam os medos humanos como invisíveis correntes sanguíneas.
“Pára! És belo!” diz Fausto ao Tempo. O emissário do espaço não precisa do super-homem em sentido contrário para imobilizar o planeta, tal como Atena não precisa de Zeus para oferecer a Ulisses um coito intemporal. Quando Ulisses e Penélope se reúnem passados vinte anos, e resolvido o massacre dos pretendentes, há três coisas que naquela cama de árvore de ramos abertos para eles não podem ser adiadas: relatar as aventuras, fazer amor e descansar. São demasiado longas emoções para uma noite que esperou a eternidade, e Atena, que sempre protegeu o Rei, estende aos amantes a noite de que precisam, a noite que merecem, interrompida para todos os outros.
Se recusou a imortalidade para regressar à sua terra, ao deleite de morrer humano, Ulisses vive essa noite sensual fora do tempo como um deus mergulhado no princípio das coisas. E as palavras sussurradas de Penélope ter-lhe-ão parecido aí pelo menos tão mágicas quanto as do filme.

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