Sunday, November 05, 2006

Caderno Diário 2

Cão que ladra não explode
Enquanto o fürer brincava com maquetas sonhando vingar Napoleão, os soldados que conquistariam Moscovo entretinham outra espécie de pesadelo: as armas inutilizadas pelo frio, veículos avariados e sem assistência, roupa primaveril acariciando o corpo congelado, a promessa de vitória instantânea frustrada por teimosia de russos que não se entregavam por nada, à excepção dos milhares que trocaram de uniforme e se juntaram aos alemães contra Estaline. Ao cabo de alguns meses, o orgulhoso soldado alemão trocara o aspecto de semi-deus caucasiano pelo de camponês castigado da natureza. Sem moral, sem apoio e, manifestamente, sem sorte, restava-lhe o cinismo, enquanto assistia incrédulo à resistência militar do exército russo, que mesmo aliados haviam tomado por incapaz, sobretudo após a campanha finlandesa. Nem só com os novos tanques tinham que se ocupar os alemães. Contra eles os russos lançavam até cães treinados, que abatiam pouco antes do contacto. Surgiam como miragens desconexas, carregando pequenos volumes no dorso, pequenos presentes de fogo e morte no branco imperturbável. Não sei dizer se seriam pastores alemães.

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