Sunday, September 10, 2006

Caderno Diário 1

From Russia with love
30 mil mortos foi o que custou erguer S. Petersburgo dos pântanos; um preço insignificante para Pedro o Grande, visto que eram apenas camponeses. Foi lá perto que estudou Púchkin, no Lycée construído pelo czar para formar burocratas de elite, e que ao invés se destacou por formar poetas e revolucionários. Púchkin, que é tão parte da identidade nacional como a vodka, tinha afinal sangue africano, e o temperamento mais insurrecto do seu tempo. A mãe repudiou-o, e Púchkin vingou-se nas mulheres que foi coleccionando. Aluno brilhante, de memória invulgar, era viciado no jogo, como tantos escritores desse país, e um apaixonado por ballet, onde apreciava em particular as pernas das senhoras. Gostava também de duelos, que praticava com assiduidade, desafiando até admiradores, e para os quais se treinava andando sempre com pesos na mão atiradora.
Quando é preso por incitações subversivas, aplicam-lhe o castigo tradicional para os génios da cultura naquele país: viagem paga para reeducação privada, visando transformá-lo num servidor do estado. Nesse exílio doméstico passeia a sua extravagância enquanto pratica a palavra e a sedução. Juntando doses perfeitas de francês, eslavo e russo coloquial, praticamente inventou a língua russa, escancarando a porta para a grande literatura que se seguiu. Proclamava-se o Mozart do séc. XIX, e também nisso tinha razão.

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