Thursday, November 27, 2008

cubobranco 2

Ricardo Angélico - The grey cube: members only

Saturday, November 22, 2008

Panópticos 5


Lâmina andalusa
Revisitar Blade Runner como um lugar misterioso de adolescência, para confirmar suspeitas de delírio. David Thomson adora-o e compara Ridley Scott a Michael Curtiz (blasfémia!), enleado em questões de identidade que o filme não alimenta, apesar das possibilidades irresistíveis (Deckard um replicante). Há vários pontos a favor: a curiosa mistura de géneros (noir sci-fi existencial); a imaginação de uma Chinatown tecnológica, sempre debaixo de chuva; a arquitectura atmosférica como outra personagem; a gravitas inesperada dos replicantes, figuras trágicas e de todas as mais humanas.
Se é no olhar que os replicantes denunciam a sua insuficiência, é nas mãos (eles que são afinal escravos ‘manuais’) que condensam uma espécie de poder ameaçador, o de viverem contra a natureza. Como o cavaleiro medieval no Sétimo selo de Bergman ao contemplar a mão que desafia a morte num jogo, e nisso perceber a maravilha de estar vivo. A mais bela frase do filme. Block joga o destino com a morte, enquanto Roy Batty (Hauer), o líder dos fugitivos artificiais, nem a isso pode aspirar na sua partida de xadrez. Bergman, obcecado com a doença, poderia ter escrito essa personagem nobre e silenciosamente atormentada, mas dar-lhe-ia um fim violento em vez da morte plena de dignidade que confirma Deckard (e todos os homens, afinal) como patéticas criaturas, pálidas de carácter e nobilidade ao pé destas cópias cujas aspirações simples de continuarem a existir é difícil não entender como legítimas. É por isso um filme desconfortável e insatisfatório, e é isso que o salva.
Que fizeram os homens deste mundo projectado? Uma noite permanente, um subúrbio sujo e fumarento vigiado por pirâmides totalitárias que administram uma população de formigas entre máquinas colossais, de clientes sem alma. Ambicioná-la é uma ofensa que merece castigo e Deckard, mesmo que involuntariamente, acaba por ser o grande vilão da história, uma espécie de Judas que com a morte de Batty assina o fim de uma sinistra esperança.

Friday, November 21, 2008

cubobranco 1

Ricardo Angélico - The murder of Alex Katz
Em Death Note, uma manga/anime de culto, há um caderno mágico onde escrever o nome de uma pessoa é condená-la a uma morte rápida. DeLillo imagina algo mais complexo e fortuito, mas de eficácia comparável. Sem desejar mal a uma mosca creio ser razoável suspeitar que o mundo seria um lugar melhor se alguns artistas escolhessem antes ser arqueólogos. Talvez se perdessem numa selva longínqua para nunca mais regressar...
Ela diz: um samurai saberá aparar o golpe. Na soleira da porta o bastão desce...
A verdade é que soube curar-se e está de regresso. As más linguas dirão que já não é, nunca mais será o mesmo. É isso que se verá...